Olá, pessoal! Fiquei muito tempo sumida das redes sociais e dos posts com novidades em Oncologia devido a correria do dia a dia, mas mês passado tivemos o Congresso de Oncologia mais importante do mundo, o congresso da ASCO (American Society of Clinical Oncology ). Esse congresso acontece anualmente no mês de junho na cidade da Chicago no EUA.
Trouxe aqui alguns breves resumos dos estudos mais importantes que impactam diretamente no dia do consultório e no tratamento dos pacientes.
Novidade em câncer de pulmão
A atualização do Estudo ADAURA foi algo de muita relevância que foi apresentado nessa ASCO.
Osimertinib (Tagrisso) é uma medicação já aprovada há alguns anos com altíssimas taxas de resposta e ganho de sobrevida em câncer de pulmão não pequenas células metastáticas (quando o câncer já avançou para outros órgãos) com mutação no gene EGFR.
O estudo avaliou pacientes em estádios mais iniciais, sem metástases. Nesse estudo todos os pacientes foram submetidos a cirurgia e depois, quando indicado, recebiam tratamento complementar com quimioterapia, que é o padrão até então. Após o término da quimioterapia, metade dos pacientes receberam a medicação durante 3 anos enquanto a outra metade ficou recebeu placebo.
Houve redução no risco de morte em 51% a favor do osimertinib em relação ao placebo.
O ganho em sobrevida global em 10% em 5 anos, ou seja, houve maior taxa de cura em 10% para aqueles que receberam a medicação.
Esse estudo consolida o uso do osimertinibe nesse cenário.
Ponto para a ciência, ponto para os pacientes!
Ref:
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2304594
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Novidades em tumores ginecológicos
Esse ano na ASCO um dos tumores que recebeu bastante destaque, foram os tumores ginecológicos.
Separei um estudo sobre câncer endométrio (corpo do útero), um sobre câncer de colo uterino e um sobre câncer de ovário que achei relevantes.
- RUBY trial
Uma novidade muito importante foi apresentada no estudo RUBY. Esse estudo avaliou
pacientes com doença de endométrio (corpo do útero) recorrente ou metastático em primeira linha de tratamento. O estudo avaliou a incorporação de imunoterapia à quimioterapia, que é o tratamento padrão até então.
Lembram-se da imunoterapia? Imunoterapia é uma modalidade de tratamento medicamentoso
que estimula o próprio sistema imunológico e reconhecer o câncer como inimigo.
A imunoterapia que foi avaliada nesse estudo foi o dostarlimabe.
Os dados apresentados foram bastante positivos e animadores. Houve ganho importante de sobrevida global, ou seja, as pacientes que receberam dostarlimabe em combinação à quimioterapia viveram mais em relação àquelas que receberam somente a quimioterapia. (HR 0.64 p<0.001).
Com esses dados, esse tornou-se o padrão o tratamento do câncer de endométrio recorrente ou metastático.
A medicação é aprovada pela ANVISA e encontra-se disponível no Brasil através de operadoras de saúde. Infelizmente, ainda não é disponível no SUS
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2216334
- Imunoterapia em câncer de colo uterino
Na ASCO 2023 também foram apresentadas atualizações de dados do Estudo Keynote-826.
Esse estudo avaliou o uso de imunoterapia em combinação com a quimioterapia padrão em paciente com câncer de colo uterino persistente, recorrente ou metastático.
Aqui a aqui a imunoterapia em questão foi o Pembrolizumabe.
A adição da imunoterapia mostrou redução do risco de morte em 40% em relação àquelas
que não utilizaram, consolidando o uso do pembrolizumabe para esse cenário.
Ref.: https://dailynews.ascopubs.org/do/keynote-826-update-confirms-survival-benefit-addition-pembrolizumab-first-line
- Novidade em câncer de ovário
Tivemos também apresentação de um novo tratamento para pacientes
portadoras de câncer de ovário metastáticos que já receberam
várias linhas de tratamento com quimioterapia.
MIRV (abreviação de mirvetuximab soravtansine-gynx), é um anticorpo conjugado a
um tipo de quimioterapia. A medicação tem seu funcionamento restrito a altos níveis de receptor alfa na superfície da célula tumoral. O MIRV liga-se a esse receptor e consegue atacar a célula. A pesquisa desse receptor de folato é feito de forma simples, através de imuno-histoquímica no material da biópsia, algo bem corriqueiro na Oncologia. Cerca de 60% das pacientes apresentam níveis médios e elevados de receptor alfa-folato.
A medicação mostrou ganho de sobrevida em pacientes com câncer de ovário metastático resistente a platina, que representa um grupo com baixa taxas de resposta a quimioterapia.
Os dados foram recebidos com muito entusiasmo na comunidade científica na Oncologia. Há muito tempo não víamos novidades nesse cenário.
A medicação ainda não foi aprovada pela ANVISA e ainda não está disponível no Brasil.
Ref:
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Novidade em tratamento de tumor do sistema nervoso central
Após muitos anos sem novidades relevantes na prática clínica do tratamento dos tumores do sistema nervoso central, no recente Congresso Americano de Oncologia Clínica ( ASCO ) em junho de 2023, tivemos uma novidade muito positiva e animadora.
Pacientes com um certo tipo de tumor cerebral poderão em breve ser tratados com um medicamento oral direcionado para um tipo de mutação específica quando presente, em vez de passar por quimioterapia e radiação mais tóxicas, de acordo com os dados apresentados no estudo INDIGO.
A medicação é o Vorasidenib que foi testado em tumores do tipo glioma com mutação IDH1 e IDH2, que foi capaz de reduzir a progressão da doença em 61%. (HR 0,39 P < .0001). O uso da medicação foi capaz de reduzir a frequência de convulsões e atrasar o início da radioterapia, que apresentar mais toxicidade.
Os efeitos adversos da medicação foram elevação de enzimas hepáticas elevadas, fadiga, dor de cabeça, diarreia e náusea, mas foram controláveis.
A medicação ainda não foi aprovada pela ANVISA. Aguardamos a aprovação para a chegada do medicamento ao Brasil.
Ref.: